Com curadoria de Waldick Jatobá, o Museu Oscar Niemeyer recebe em novembro, com data a ser confirmada, a exposição “Forma e Matéria” de um dos principais nomes do design nacional, Claudia Moreira Salles. A mostra traz um verdadeiro mergulho no processo criativo e artesanal da designer e apresenta o processo do design com olhar, compreensão e investigação.

Ao longo de sua trajetória, Claudia Moreira Salles soube mesclar o rigor dos traços que buscam o funcionalismo escrito, fruto de sua formação pela Escola Superior de Desenho Industrial (Esdi), com a liberdade de quem tem profundo conhecimento de formas e materiais para brincar com sua multiplicidade. Isso sem abrir mão da elegância, da força e, ao mesmo tempo, da delicadeza.

Ao se aprofundar, de maneira quase obsessiva, no seu processo de criação, Claudia Moreira Salles subverte o conceito de que a forma segue a função e lança, assim, um novo olhar para o design. Uma estética que flerta com o minimalismo de Donald Judd e Carl Andre pelo domínio de recursos, a racionalidade dos desenhos e a paixão pelos processos. E é justamente por isso que a mostra “Forma e Matéria” dispensa a organização cronológica. 

MON recebe exposição de Claudia Moreira Salles em novembro
Poltrona Lacuna, by Claudia Moreira Sales

A ideia é evidenciar essa imensa capacidade de Claudia Moreira Salles em explorar saberes manuais e revelar as infinitas potencialidades da matéria, exercitando livremente sua capacidade morfológica. Móveis que podem ser esculturas e objetos que ocupam o lugar de obras de arte. Além da madeira, tão fundamental em toda a carreira da designer, os processos compilados para a exposição mostram estudos artesanais feitos a partir de materiais como mármore, pedra bruta, concreto, metal e fibra. 

Do começo ao fim, a artista define e recria uma estética contemporânea sempre presente em seus trabalhos autorais e convida o visitante a passear por seu universo harmonioso, de desenho livre e intuitivo, que tão bem caracteriza o emotional design

Tão emocionante quanto surpreendente é a sala dedicada à coleção Sintonia Fina, em que a designer traduz toda a poesia e o dinamismo das cores na forma de luminárias. Em edição limitada, a série tem o nióbio, um metal raro, usado para dar mais resistência ao aço, como protagonista. Ao lado do cobre e da madeira de demolição, as peças criam contrastes de texturas, tons e formas. A variedade de cores é obtida após um precioso processo de anodização e da voltagem utilizada em cada luminária, ou seja: todas são únicas e dignas de um colecionador. Através delas, a designer testa os limites entre a arte e o design, se reinventa e, mais uma vez, debate novos conceitos e usos na arena da contemporaneidade. Fica no imaginário a pergunta: são luminárias ou objetos de luz? A mostra não pretende responder a questão, pois o design autoral de Claudia Moreira Salles é sinônimo de um minimalismo construtivo, cujo tema é a liberdade, e o talento a condição para ousar. Como resultado, a exposição mergulha no trabalho de uma designer que, em pleno séc. XXI, consegue se manter aberta e conectada, mas, acima de tudo, sincera e verdadeira ao seu ofício.